ARTISTAS DA NOVA CENA MUSICAL PERNAMBUCANA
- ccaroaportal
- 19 de out. de 2022
- 9 min de leitura
Atualizado: 23 de out. de 2022
Carlos Filho, Gael Vila Nova, Murilo Carmo e PC Silva falam sobre sua carreira musical e experiências diante do novo cenário artístico de Pernambuco
Por Alice França, Ana Clara Pinheiro, Helder Henfil, Manoel Gonzalles e Stefany Santos

Pernambuco sempre esteve marcado por uma diversidade cultural muito vasta que se manifesta em variadas linguagens, em todas as épocas do ano. Atualmente, o cenário musical do interior do estado tem se destacado com o surgimento de novos artistas de diferentes estilos, que tem alimentado esse celeiro cultural, cada vez mais rico.
As manifestações artísticas e musicais têm surgido de diversos lugares, seja no Agreste, ou no Sertão do estado. Os diferentes estilos e identidades destas personalidades trazem consigo novas propostas e uma fusão de ideias que saem da cultura regional, popular e internacional.
Carlos Filho

Nascido em Serra Talhada, Sertão do Pajeú de Pernambuco, Carlos Filho cresceu em uma família religiosa e tinha uma grande presença da música no seu cotidiano. Desde cedo, já cantava no coral da igreja ao mesmo tempo em que, por morar entre dois bares, recebia também uma influência da música popular e regional. Nesse sentido, Carlos destaca a importância de grupos como a Banda de Pífanos Zé do Estado, de Caruaru, entre outros artistas que ocupam o cenário musical do interior pernambucano. Ainda em sua adolescência, fez parte de alguns grupos de rock da sua cidade natal, mas nunca pensou em seguir carreira de artista. Foi ainda nesse período também que ele se interessou pelo futebol e foi para Recife, lugar onde posteriormente fez faculdade de Direito e ingressou na carreira jurídica, sempre levando a música como um hobby.
“Eu cantava, mas nunca me entendi como cantor. Isso é uma coisa recente", afirma Carlos Filho.
Por volta de 2011, Carlos passou a fazer parte da Bandavoou de Recife, criada por ele junto de alguns amigos. Ele afirma que fazer parte da Bandavoou foram os cinco anos mais intensos de sua vida. Foi a partir daí que ele largou definitivamente a carreira do Direito e começou a se dedicar a música, como cantor e compositor. Na banda, ele ainda teve a oportunidade de participar de vários festivais de música, como o E-Festival da Samsung, onde o grupo fez a abertura do show de Milton Nascimento.
“Foi rico. Eu pude conhecer o Brasil, ver lugares e pessoas. Foi um período artisticamente importante e de repente virou minha profissão de sete dias da semana", completa.
Após o fim da Bandavoou, Carlos Filho seguiu sua carreira musical pensando em novas possibilidades, aí surgiu a ideia do grupo Estesia, que é um coletivo que conta com uma pluralidade de artistas. O grupo é voltado para uma produção mais acadêmica e experimental, em que se prioriza uma performance mais corporal e uma interação direta com o público. “A regra é que todas as pessoas tenham a mesma experiência”, afirma Carlos. Para além de Carlos Filho (voz), o grupo é composto por Cleison Ramos (iluminação cênica), Miguel Mendes (sintetizadores) e Tom BC (beats).
“O estesia surgiu como um lugar de experimentação e de correr riscos. A gente passou a questionar se não poderíamos ocupar os lugares não tradicionais. Era uma ideia de ressignificação afetiva dos espaços. Queremos ser fora da caixa, mas dentro da curva”, ressalta.
Após passar pela décima edição do The Voice Brasil, programa da Rede Globo, Carlos Filho iniciou sua carreira solo e tem trabalhado no seu primeiro disco autoral, que ele pretende finalizar e lançar no próximo ano. Para além da carreira musical, ele é ator integrante do espetáculo do “Baile do Menino Deus”, que é realizado há cinco anos durante o Natal. Neste ano, o evento volta a acontecer presencialmente em Recife depois de ter ocorrido de forma on-line durante os dois anos da pandemia do coronavírus. Ele ainda afirma estar trabalhando em projetos futuros no grupo Estesia e que em breve lançará a temporada do projeto “Estesia Com Vida”.
Murilo Carmo

Murilo Carmo é cantor, compositor e produtor musical, nascido em Caruaru. Assim como outros artistas, traz o interesse pela música desde a sua infância. O seu ambiente familiar sempre foi marcado pela influência musical, sua mãe tocava acordeom e seu pai gostava muito de ouvir discos. Dessa forma, sua afinidade pelo universo artístico foi crescendo. Por volta dos 15 anos de idade, ele aprendeu a tocar violão com um amigo que percebeu que Murilo desenvolveu facilmente a habilidade de usar o instrumento. “Foi a partir daí que encontrei na canção uma ponte entre a poesia e a música”, afirma Murilo.
Influenciado tanto pelo cenário artístico regional e nacional, quanto pelo cenário internacional, suas referências musicais vêm desde personagens como Alceu Valença e Luiz Gonzaga até grupos musicais de rock como Beatles e Rolling Stones. Ao observar estas referências, ele enxergou neles a possibilidade de desenvolver uma arte que fosse uma fusão entre o regional e o internacional, entre os ritmos tradicionais do Nordeste e o som da guitarra, instrumento que também toca desde jovem.
"A música escolhe a gente. Sou músico por formação da vida", ressalta Murilo.
Com o passar do tempo, o seu interesse pela música cresceu mais e ele passou a fazer cursos de áudio que o levaram ao aprimoramento do que ele já vinha fazendo. Assim, posteriormente, ele abriu seu estúdio para produção musical, chamado "Studio Peixe Elétrico", que, de início, era voltado apenas para a manutenção de equipamentos. "A ideia do Peixe Elétrico é procurar fazer produções com baixo custo, tentando encontrar uma sonoridade de qualidade", cita.
No seu estúdio, Murilo tem desenvolvido o seu trabalho como compositor e multi-instrumentista e, além disso, produzido as obras de outros artistas parceiros como Gabriel Sá, Gael Vila Nova, Jackson Freire e Rosberg Adonay. Ao lado desses artistas, Murilo também faz parte do coletivo Cais do Agreste e tem trabalhado integrando o atual cenário musical do interior de Pernambuco.
"A proposta do Cais vem de amigos que resolveram se unir para semear canções. Canções que possam falar o que a gente está sentindo e que possam também tocar outras pessoas", destaca Murilo Carmo.
Atualmente, Murilo tem realizado projetos com artistas de diversas vertentes e, através da musicalidade e das canções produzidas, têm procurado evidenciar as identidades de cada um destes. Ele ainda afirma estar trabalhando em seu primeiro disco autoral como cantor solo e espera lançá-lo ao público no próximo ano.
Gael Vila Nova

O caruaruense Gael Vila Nova, que também faz parte deste novo cenário musical pernambucano, começou a sua carreira por volta dos 13 anos como compositor. "Lembro que, na minha adolescência, já escrevia a letra de canções e já ia imaginando a melodia da voz. Eu não sabia tocar. O interesse por aprender um instrumento só veio depois. Eu peguei um violão velho do meu pai e comecei a estudar através de videoaulas gratuitas na internet", afirma Gael. A sua vontade em seguir a carreira musical surgiu na medida em que passou a consumir mais músicas, principalmente, as dos artistas da MPB e do Rock nacional. Aos 17 anos, o cantor, compositor e poeta já tocava violão e guitarra e, apesar de ter ingressado na faculdade de Direito na época, decidiu trancar o curso e seguir a carreira artística.
“Daí pra frente, tenho tomado decisões que possam agregar na minha carreira artística. Eu me realizo fazendo parte da área artística mesmo, seja a música, a composição e a poesia também”, ressalta Gael Vila Nova.
O artista lançou o seu primeiro EP solo e autoral no ano de 2021, intitulado "Cantando Poemas". A obra conta com quatro canções, dentre elas, o single “Tente entender,” lançado pouco antes do álbum. Em todas as suas músicas, Gael sempre reafirma a influência que a poesia e o sentimentalismo têm na sua trajetória. Recentemente, ele realizou o show de lançamento oficial do seu primeiro livro “Os poemas que não foram cantados” pela editora independente Arrelique. O evento ocorreu no dia 10 de setembro no teatro do Sesc de Caruaru. O livro, que pode ser encontrado em formato de e-book e formato físico, surgiu em paralelo com a ideia do seu primeiro EP. Segundo o autor, a obra conta com poemas que datam desde o início da sua carreira até as produções mais recentes.
Gael Vila Nova já fez parte de alguns grupos de rock e da banda caruaruense Joana Francesa. Atualmente, ele também integra o coletivo Cais do Agreste, que conta com vários artistas solo do cenário musical e teatral independente do Agreste pernambucano. O Cais surgiu com a necessidade de unir e dar visibilidade aos artistas de vários lugares do estado, como Caruaru, Belo Jardim e Garanhuns. O grupo é formado por músicos como Matheus Ferraz, Everson Di Melo, Bianca Mota, Murilo Carmo, Jackson Freire e Rosberg Adonay.
“Foi uma reunião que surgiu de forma espontânea. Um amigo chamava o outro para mostrar composições, para tomar uma. A gente tem trabalhado junto e isso foi gerando um laço de amizade também”, cita Gael sobre a formação do Cais.
Ao lado desses parceiros, Gael tem desenvolvido vários projetos e eventos com destaque para o Festival Canto da Patativa, que teve a segunda edição realizada em agosto de 2022. A mostra foi feita em parceria com outros artistas independentes como Daniel Finisola, Renata Torres e Valdemar Neto. A iniciativa do evento é de mobilizar e questionar a falta de atenção dada aos novos personagens da arte no interior, que integram o cenário musical nas diversas épocas do ano, para além do período junino.
“O Canto da Patativa foi um festival que, para além de mostrar a diversidade da música de Caruaru, suscitou questionamentos em prol da cultura”, afirma.
Ainda quando questionado de que maneira o cenário artístico e regional influencia em suas obras, Gael ressalta a importância das parcerias com outros artistas, como os que integram o próprio Cais do Agreste e o incentivo que compartilham entre si. Também destaca a paixão pela sua cidade natal, que se faz presente em uma das suas composições intitulada "Preta". Na canção, há um trecho que faz referência a Caruaru. "As cores dos teus olhos escorrem pelos dedos de tua mão, que colorem a nuvem agrestina na cor de um algodão doce". O cantor afirma ter tido inspiração para a música ao presenciar o pôr-do-sol da cidade na varanda de sua casa.
PC Silva

PC Silva é natural de Serra Talhada, no interior do Sertão pernambucano, e começou sua carreira musical por volta de 2012. O cantor, músico e compositor sempre teve uma grande afeição pela poesia e pela cultura popular, vinda desde o nacional até o regional. A vivência diante de artistas como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e, ao mesmo tempo, em meio a poetas e figuras do próprio Sertão do Pajeú, o levaram a desenvolver o interesse pela arte de compor e interpretar músicas.
“A música tomou frente das coisas que decidem a minha carreira e a minha vida pessoal também. Essa linguagem, essa poesia falada e cantada no Sertão de onde eu morava foi o que me impulsionou para compor e para querer fazer também aquilo ali”, afirma PC Silva.
Após ter saído da sua cidade natal para fazer faculdade de Arquitetura e Urbanismo em Recife, capital pernambucana, PC passou a ter mais contato com a cultura popular brasileira. Posteriormente, após ter conhecido figuras com semelhante interesse pela música, de forma despretensiosa, se juntou com o coletivo Bandavoou, por volta de 2012. A passagem por este grupo foi a primeira experiência que o despertou para a música. Junto de seus parceiros, ele gravou dois discos autorais, um em 2012 e outro em 2015. A experiência de integrar a Bandavoou ainda o fez participar de festivais como o Samsung E-Festival, no Ibirapuera, em São Paulo, onde fez a abertura do show de Milton Nascimento.
Após a passagem pelo grupo, que foi o marco inicial da sua carreira, PC Silva, que já conhecia vários artistas do mesmo cenário musical em que estava, passou a integrar a mostra Reverbo. O coletivo, que conta com 29 artistas autorais, tem levado a cena musical pernambucana, marcada pela poesia e pela pluralidade de cada integrante, para o Brasil inteiro. Ao lado de outros músicos, como Almério, Gabi da Pele Preta e Isabela Morais, ele recentemente se apresentou no evento do Itaú Cultural, em São Paulo, além de outros lugares Brasil afora.
“Nesse sentido, andar em grupo é um dos principais triunfos dessa turma. Um dá força ao outro. Cada disco lançado de um tem um pouquinho do outro”, ressalta PC sobre a Reverbo.
PC Silva já teve muitas das suas composições regravadas por outros artistas como Simone, que regravou a canção “A Gente” em 2022 e Ney Matogrosso que regravou a música “Estranha Toada” em 2021, obra que já havia sido gravada antes por Almério e Martins. Atualmente, ele tem prosseguido promovendo o seu disco “Amor, Saudade e Tempo”, que foi lançado em 2020. O primeiro disco que marca a sua carreira solo traz uma reunião de 11 canções autorais que falam sobre sentimentos diante do passar do tempo e contam com uma poética muito presente.
PC Silva conta também com um repertório de trabalhos realizados no período carnavalesco como a música, gravada ao lado de Flaira Ferro, Rafael Marques e a orquestra Malassombro, intitulada “Um Frevo para Pular Fevereiro". O artista ainda afirma estar trabalhando no próximo disco, mas não conta com previsão de lançamento. Para o próximo ano, PC Silva planeja lançar durante o carnaval a canção “Um Frevo Guardado”, que traz uma parceria com a orquestra Malassombro e demonstra toda a sua admiração e saudade do carnaval após os dois anos de pandemia.
Confira o perfil de PC Silva no Instagram: https://www.instagram.com/reel/Cf4hOGfMnPC/?igshid=YmMyMTA2M2Y=
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