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FEITOS DE FORRÓ

  • Foto do escritor: ccaroaportal
    ccaroaportal
  • 24 de out. de 2022
  • 4 min de leitura

Forró em Caruaru: identidade, tradição e história


Luiz Gonzaga é considerado um dos precursores do forró. Foto: Adriane Delgado

Quem já dançou balancê, chamego, samba e xerém sabe que o forró tem um quê que as outras danças não têm e, para quem quer aprender como se dança o forró, Caruaru é o lugar onde esse gênero musical une milhões de indivíduos em volta da afirmação de uma identidade regional construída há quase um século.

O forró é, nitidamente, senão o maior, um dos maiores símbolos de Caruaru, conhecida também como a “Capital do Forró”. A construção da identidade da cidade associada ao São João e a esse ritmo popular se inicia nos anos 50, fortemente impulsionada pelo rádio e também pela própria identidade nordestina, vinculada ao ritmo a partir da década de 30, como apresenta Durval na obra “A invenção do Nordeste e outras artes”. No livro, o autor descreve como, diferente do que se costuma imaginar, as tradições que atribuímos hoje à região e suas raízes, das festas aos trajes, nem sempre estiveram lá, mas foram construídas para produzir uma unidade que permitisse a reafirmação das elites nordestinas em um contexto de disputas por poder entre as regiões Sul e Norte do Brasil.

Esse gênero musical, que dá vida às quadrilhas e embala casais nas festas noturnas, foi ‘inventado’ por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira no Rio de Janeiro e surgiu como um gênero urbano que misturava ritmos já existentes naquele período e buscava resgatar características musicais do Nordeste. Essa adaptação se consolidou como gênero nordestino e foi na festa de São João que o forró encontrou o seu maior palco, sendo o principal gênero musical tocado na celebração.


O forrrozeiro Walmir Silva recebeu o título de Patrimônio Vivo de Caruaru em 2021. Foto: Lucas Barros



Caruaru, muito cantada por Gonzaga, foi, como cidade-polo do Agreste pernambucano, um espaço quase perfeito para o crescimento e a expansão do São João e do forró, simultaneamente. Hoje, ela se destaca nacionalmente com a promoção do denominado "Maior São João do mundo”. Em 2022, o ano que marcou o retorno presencial da festa tradicional, a cidade recebeu mais de 3,2 milhões de visitantes e movimentou R$ 558 milhões, segundo informações da prefeitura e já, em 2020, o forró passou a ocupar a quarta posição entre os estilos mais ouvidos no Top 200 do Brasil no Spotify, marcando a expansão do gênero para as demais regiões do Brasil.

Seja em um contexto tradicional ou espetacularizado, esse município é o lugar de uma série de artistas, forrozeiros e forrozeiras, que têm uma contribuição significativa para o crescimento e a manutenção desse gênero musical no país. O forró carrega consigo uma imensidão de significados que transpassam diversas gerações e foi declarado, somente em dezembro de 2021, patrimônio cultural imaterial brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Segundo o professor e pesquisador Amílcar Bezerra, que coordena a Associação Respeita Januário, responsável pela construção do dossiê que permitiu a patrimonialização, a conquista oferece um selo de distinção ao forró e pode facilitar a obtenção de apoio logístico, cultural e financeiro para os forrozeiros e forrozeiras em todo o Brasil.

Esse fenômeno é visível na trajetória da forrozeira Renilda Cardoso, que recebeu o título de cidadã caruaruense em 2008. A artista, que tem sua carreira consolidada no gênero musical, compartilhou que tinha o sonho de morar em Caruaru. Ao ser questionada sobre o significado do forró, a artista o descreveu como “arte pura”. “Aprendi a gostar de forró com o meu pai, mas o sonho mesmo de ser forrozeira nasceu ouvindo Ivan Bulhões. Eu gostava muito de ouvir o programa dele e queria vir cantar forró. Eu tinha convicção de que em Caruaru eu teria o espaço pra cantar forró, e, em 84, o sonho começou a se realizar”, disse ela.


Renilda Cardoso, além de forrozeira, se desdobra para vender roupas nas feiras da região. Foto: Lucas Barros


Para além dos artistas, esse gênero musical é parte da história de multidões e um lugar de perpetuação de memórias. Débora Melo, moradora de Caruaru, compartilhou sua experiência com o forró, presente em sua vida desde a infância: “Eu tenho muitas memórias afetivas porque eu vinha passar muitas vezes as férias e o mês de São João aqui. Eu me lembro de quando tinham as palhoças, o forró, de ir a família toda. A gente se divertia muito”. José Zenivaldo, mototaxista de Caruaru, por outro lado, descreve a importância desse gênero musical no São João para sua renda e de outros profissionais. Ele se refere ao São João como “o tempo do forró”. “É muito bom. São 30 dias de festa, 30 dias de alegria e renda para a gente”, afirma Zenivaldo.

As experiências compartilhadas reforçam a importância do forró para este município, deste município para o forró e de ambos para milhões de pessoas. Afinal, como cantam os forrozeiros do trio “Os 3 do Nordeste”, em Caruaru a poeira sobe, o suor desce e o sanfoneiro não pode reclamar, quem é daqui sabe que, no forró desta cidade, é proibido cochilar.


Documentário "Feitos de Forró" retratando a subjetividade do forró na vida de moradores de Caruaru-PE:



Por Ânily Santos, Adriane Delgado, João Victor Oliveira, Lucas Barros e Maria Rita Chaves


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