MANO JAL E A BATALHA DA IGREJINHA
- ccaroaportal
- 19 de out. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 24 de out. de 2022
Um pouco da história da Batalha da Igrejinha em Caruaru, no bairro José Carlos de Oliveira e do seu organizador, Mano Jal
Por Janniny Nascimento

“Quando você ganha uma batalha, é um simples papel que você leva para casa, mas isso tem um significado enorme.”
- Mano Jal.
Djailson Pessoa, 24 anos, mais conhecido artisticamente como Mano Jal, caruaruense do bairro José Carlos de Oliveira, é cantor e consome rap por influência do seu bairro desde a sua infância. Antes de começar a improvisar, já assistia pelo YouTube a batalhas de rima, mas ainda não tinha coragem de tentar. Até que, no início de 2019, conheceu a Batalha do Marco Zero que já acontecia no centro de Caruaru há anos. Foi lá que ele batalhou pela primeira vez, perdeu e quis desistir, mas pensou que treinando poderia melhorar assim como todos os outros MCs, que começaram perdendo e se aprimoraram até ganhar. Treinou durante três meses e ganhou a sua primeira batalha. Após isso, foi chamado para gravar uma música. O cantor relata que inicialmente teve receio das críticas e rejeitou a ideia, mas depois aceitou e continua investindo na carreira dentro dos estúdios até hoje e, paralelamente, organiza a Batalha da Igrejinha em seu bairro. “A batalha, para mim, tem muita importância porque é algo libertador. Através dela, eu consegui ter um reconhecimento bem maior do que eu tinha antes. As pessoas hoje no meu bairro e ao redor me reconhecem hoje como organizador da batalha. Eu não me considero pioneiro porque há amigos meus que estão faz muito mais tempo aí, mas me considero sim um cara visionário e de referência na cidade”.
Batalha de rima é uma competição na qual dois oponentes improvisam versos e a plateia escolhe o melhor. Um sorteio é feito para definir quais rappers irão batalhar em cada fase. Cada MC manda quatro versos, a plateia decide e quem ganha passa para próxima fase até chegar na final. Geralmente, essas batalhas fixas e semanais que acontecem nas ruas só possuem a plateia como júri, mas alguns eventos às vezes trazem jurados específicos além da plateia. A ordem de quem começa cada round geralmente é decidida no ímpar ou par pelos próprios oponentes e a competição pode conter microfone e som ou ser à capela.

“A batalha, para mim, tem muita importância porque é algo libertador. Através dela, eu consegui ter um reconhecimento bem maior do que eu tinha antes. As pessoas hoje no meu bairro e ao redor me reconhecem hoje como organizador da batalha...”
- Mano Jal
A Batalha da Igrejinha foi uma iniciativa de Mano Jal e mais três amigos, que já tinham o hábito de ir para a praça conversar. O rapper conta que o intuito de realizar uma batalha no seu bairro era trazer a sua cultura para aquele local, que já era um ponto de encontro entre os moradores, pois concentra lanchonetes, mercados, farmácias etc., além de também ser um local de memória afetiva da sua infância. A praça, que hoje abriga a Igreja Sagrada Família, era apenas uma capela simples e rústica. Como ele e seus amigos tinham o hábito de falar que iriam para a “igrejinha”, Jal deu a ideia de chamar o evento de Batalha da Igrejinha e foi assim que ela nasceu em 2019. Mano Jal começou a investir na divulgação da competição e a ganhar atenção da população do bairro e da mídia. Em 2020, a TV Jornal, emissora afiliada do SBT em Caruaru, realizou uma matéria sobre o evento. Mano Jal conta que a batalha não se restringiu apenas a Caruaru, passou a ficar tão conhecida fora da cidade que deu a oportunidade de MCs caruaruenses competirem em batalhas consagradas fora do estado como o Duelo Nacional de MCs, em Belo Horizonte. Mano Jal conta que a batalha diminuiu seu alcance depois da pandemia. Considera que, antes, era comum ver todos os tipos de pessoas apreciando o evento, como idosos, crianças, policiais e que, às vezes, os próprios MCs que participam da batalha trazem sua família. A Batalha da Igrejinha conseguiu romper o preconceito e mostrar para a comunidade que hip hop é algo para se levar a sério e que não é “coisa de bandido”.
Questionado sobre a importância da batalha, Mano Jal conta que um dos participantes da batalha chegou a comentar com ele que estava com depressão e a batalha o ajudou a vencer. Além disso, a batalha também é importante porque antes os MCs do interior não ganhavam muito destaque fora da região. Com o reconhecimento do seu evento, Mano Jal já chegou a selecionar alguns rappers locais para participar de uma das batalhas mais antigas de Recife, a Batalha da Escadaria e também para o Jornada de MCs, evento consagrado da cultura do hip hop que acontece desde 2005 e em 2022 aconteceu pela quarta vez no Festival de Inverno de Garanhuns. “A capital começou a olhar para gente, vários MCs de fora, da Bahia, da Paraíba, querem colar aqui, mas eles não conseguem vir por falta de apoio e recurso.”
Sobre a importância do rap e das batalhas na sua vida, o artista diz que o hip hop vai muito além do rap. “Para mim, é mudança de vida totalmente. É além de uma cultura, é uma religião. Quando você ganha uma batalha, é um simples papel que você leva pra casa, mas isso tem um significado enorme. Você pensa: poxa ganhei de Fulano, de Sicrano. Fui o melhor da noite. Eu consigo. Isso te dá um combustível para correr atrás e tentar”.
Conheça mais sobre a Batalha da Igrejinha e alguns de seus participantes:
Por Janniny Nascimento
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