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METAL BEER: “A IDENTIDADE DO METAL, NA VERDADE, É A IDENTIDADE DE DOMINIQUE E DE THIAGO”

  • Foto do escritor: ccaroaportal
    ccaroaportal
  • 24 de out. de 2022
  • 7 min de leitura

Atualizado: 21 de nov. de 2022

Por Fernanda Kemilly, Livia Rodrigues, Laís Barros, Nayara Nascimento e Sammy Carolina


Metal Beer/ Foto: Fernanda Kemilly

Quando se fala em uma cena musical, músicos ou bandas, também se fala do público, dos encontros de pessoas que frequentam ou fazem os shows, das lojas especializadas no gênero, bares ou locais que contribuem para a troca de experiências entre pessoas que possuem os mesmos interesses. Dessa forma, a consolidação de uma cena se dá pela ocupação de espaços físicos, como bares, clubes, boates, ruas e afins. Inaugurado em 2011, pelo casal Thiago Silva e Dominique Oliveira, o bar Metal Beer caracteriza um ambiente que fomenta a consolidação e resistência da cena metal em Caruaru, abrindo espaço para que bandas autorais que estão iniciando a carreira se apresentem no espaço, além de organizar eventos e festivais de pequeno porte.


O Metal Beer, localizado próximo ao Pátio de Eventos Luiz Gonzaga, é um ambiente de troca para os amantes da música extrema, mas não se restringindo apenas a esse público. "Todo mundo é muito bem-vindo no Metal Beer. A gente é uma casa para abraçar outras causas", explica Dominique.

Em uma sexta-feira, pouco antes do intenso movimento de pessoas que entram e saem do bar começar, o casal conta, em um tom gentil e acolhedor, como se deu a abertura do Metal Beer e as razões que os motivaram a mantê-lo em pleno funcionamento há mais de 10 anos.


Como surgiu o Metal Beer?


Dominique: Inicialmente, a gente não tinha ideia de abrir o Metal Beer. De maneira nenhuma a gente pensava em abrir um bar. Tudo começou no momento que eu tinha saído de um emprego, Thiago tinha saído do emprego dele e a gente decidiu abrir uma lanchonete, totalmente fora do contexto do que é o Metal Beer hoje, mas nós já curtimos rock and roll desde a adolescência. Eu comecei a ouvir algumas músicas dentro da minha casa com os meus pais. E o que que acontece? A gente decidiu sair de casa, em um belo dia, e alugar um ponto para abrir uma lanchonete. Quando chegamos a esse primeiro ponto, Thiago teve a ideia de fazer uma demarcação no chão e disse que cabia que fosse um bar. Eu disse: “tu tá louco”. A gente saiu de casa no intuito de abrir uma lanchonete, que era o que eu vendia. Eu vendia lanche. Pensei em ver o que poderíamos fazer e, em algumas horas, decidimos tudo. Depois de alguns dias, alugamos o primeiro local onde funcionaria o bar, porque tem toda a parte burocrática, como imobiliária e essas coisas. Inicialmente, não tínhamos nem nome, só tinha a ideia. A gente teve a ideia do nome “Metal Beer” somente um tempo depois. Inauguramos o bar no dia 26 de maio de 2011 neste primeiro local, mas, como a gente não tinha dinheiro, nem para colocar a placa na fachada, a ideia ficou só na nossa cabeça.


Thiago: A gente passou quase um ano sem placa, sem identidade visual, sem nada. Nesse primeiro ponto, passamos seis meses. Depois, nos mudamos para o lugar onde o bar funciona hoje e, de lá para cá, estamos só expandindo. Começamos com um lugar que funcionava apenas um lado, do estabelecimento, hoje, funcionam três. E é isso, o início do Metal Beer foi assim.


Como vocês se veem nesse papel de fomentar a cena do metal em Caruaru?


Dominique: Como a gente sempre gostou muito de música, sempre gostou de rock and roll, de toda a cena do metal e já produzimos shows desses gêneros antes, o Metal Beer veio a calhar nesse sentido. Primeiro apresentar a música de forma mecânica, só com a parte de som e aí depois inserir as bandas. Trabalhamos tanto com bandas covers, como autorais. As autorais, geralmente, são bandas que não têm muito espaço no Estado inteiro. Então, sempre deixamos um espaço na agenda para organizar alguns eventos com bandas autorais para poder fazer essa divulgação. E a gente percebe que, com esses 11 anos do Metal, muita gente começou a curtir o som, muita gente começou a curtir rock and roll. Assim, vemos que o Metal Beer é um bom influenciador na cena. Uma porta de entrada para alguns.


Como é o desafio de manter o nicho?


Dominique: Bom, aceitamos toda e qualquer pessoa. Todo mundo é muito bem-vindo no Metal Beer. Somos uma casa de abraçar as causas, na verdade. A gente só deixou que o bar fosse temático. Aí a proposta do bar é uma proposta rock and roll, é uma proposta temática. E não temos muita dificuldade com isso não. As pessoas respeitam. Ainda bem. Na área externa, preferimos que não tragam caixinha de som e essas coisas para que não vire um tumulto, uma bagunça, uma poluição sonora. Até para manter a política de boa vizinhança com os moradores e temos a ideia de show só até as 23h, que já foi um acordo feito com eles. Se permitíssemos outros estilos de som na área externa, iria virar uma briga musical. E uma briga musical não é o que queremos, muito pelo contrário, a gente montou a ideia do Metal como uma proposta de trazer mais amigos, de ter uma casa de amizade, de conhecer novas pessoas e não de briga nem sonora.


Vocês nunca pensaram em mudar a proposta do bar?


Dominique: Não, até porque a proposta do Metal é a proposta da nossa vida. Estamos juntos há mais de 20 anos. Todos os nossos filhos curtem rock and roll, tudo gira em torno disso, da música. Então não teria como a gente fazer uma mudança. A gente já abriu outros negócios com outras temáticas, como no Alto do Moura, com uma temática mais raiz, forró, mas não conseguimos nos dar bem com o ambiente. Porque a nossa linha é realmente essa. A identidade do Metal, na verdade, é a identidade de Dominique e de Thiago. Tudo que tem em volta do Metal Beer é relacionado a nós dois. Quem me introduziu no rock and roll foi meu pai. Com mais ou menos 10 ou 11 anos de idade, ele me apresentou a várias bandas e cantores e me marcaram logo de cara Raul Seixas e Scorpions. Quando nós nos conhecemos, eu com 14 anos, Thiago já curtia um som mais pesado.


Thiago: Eu comecei a curtir o gênero através de amigos na escola, com 10,11 anos de idade, também. Eu já tive banda, organizei eventos, fiz fanzines, bar, fiz uma porrada de coisas. Dentro e fora do Metal Beer.


Vocês sentiram alguma marginalização pela temática ser rock?


Dominique: No início, não foi fácil. Na verdade, nada é fácil inicialmente. De cara, logo quando a gente chegou, no primeiro dia de trabalho, o primeiro vizinho colado com a parede, já disse assim: que não queria que a gente estivesse aqui. Então ele [Thiago] disse: “olha, se você não quiser é só falar com a proprietária, o pessoal da imobiliária e perguntar se eles querem que a gente saia”. Estamos aqui até hoje, 11 anos. Ele [o vizinho] teve que se adaptar a gente. Mas tentamos combinar as coisas para que não haja um desconforto com todo mundo. Infelizmente, houve algumas pessoas que não gostaram da ideia, da proposta, mas a gente tentou se encaixar com a ideia de quem somos nós e não que fosse só pela ideia de marginalização ou de ser mal visto. É tanto que, hoje em dia, a proposta do metal está se expandindo tanto que agora tem outros bares querendo colocar rock'n roll. Então, quer dizer que o que era mal visto, realmente era só mal entendido. Só éramos mal entendidos.


E para uma pessoa que nunca frequentou o bar, como vocês o descreveriam? O espaço físico e a experiência?


Dominique: A proposta do Metal Beer, como eu já disse, é de que a gente abraça todas as causas. Então, o que a gente pode dizer com relação a vir para cá é que você venha de peito aberto, de coração aberto, porque você vai chegar e não vai encontrar nada muito sério. A nossa proposta não é de trabalhar como um local mais formal, gourmet. A nossa proposta é mais humanitária. É fazer amizade com todo mundo. Você não vai chegar aqui e vai ver os garçons fardados facilmente. Todos eles têm camisa do Metal, mas também tem um milhão de clientes nossos que também têm camisas do Metal. Então não chegue achando que vai ser simplesmente fácil reconhecer o garçom pela farda. É mais fácil você conhecer o garçom pelo nome. A gente sempre pede que as pessoas venham mais de peito aberto. A nossa proposta da casa não é uma proposta gourmetizada. Temos a proposta de conhecer todas as pessoas pelo nome e geralmente aqui lidamos com muitos amigos. Essa é a ideia do Metal.


Como vocês enxergam a cena do rock hoje em dia ?


Thiago: Eu acho que ainda tem muita banda nova surgindo, tem muito evento. Não existe só esse nicho, de rock and roll conhecido ou de grandes bandas. Conhecemos uma cena underground. A gente está sempre em contato com o pessoal de Recife, Pombos, Garanhuns, Gravatá, Bezerros, Vitória e várias outras cidades. Então, acho que a cena rock'n roll só tende a crescer. Ela pode se manter um pouco mais underground do que é. Às vezes, as pessoas têm muito esse quê de não divulgar tanto, como o Metal passou a divulgar, mas existem muitas bandas, existe uma cena gigantesca pela frente, surgindo cada vez mais. A gente conhece muita gente de pouca idade, com bandas de um ou dois anos, que está começando agora e isso quer dizer que a cena não vai morrer facilmente, ainda bem. Caruaru sempre foi um ponto para rock and roll, desde 1988, quando o Sepultura tocou aqui. A cidade sempre foi uma porta aberta para muitas bandas.


Dominique: Nós esperamos que ainda estejamos aqui daqui há 10 anos, trabalhando no bar, aguentando trabalhar em bar [risadas]. A gente espera muito que nossos filhos sigam em frente com o Metal Beer, que eles estejam dispostos a estar aqui quando Thiago e eu não conseguirmos mais estar. E que nossa trajetória sirva de exemplo para nossos filhos e as novas gerações.



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